quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Mientras el cielo llora ...

... Escribo. Às vezes é bom retormar um hábito antigo. Um amável hábito antigo. É como rever um álbum antigo. O fato de a vida voar a ventos agressivos me impedia reviver algo que sempre fora vital em minha vida e, hoje, sei o porquê disso. Em meio a muitas aulas e trabalhos, ler além dos livros didáticos sempre é uma boa válvula de escape, mas uma prática que se sublimara à minha personalidade. A gente incorpora uma personagem; a gente vive a cena; a gente sente a página e aprecia a sintaxe das palavras.
Não é à toa a idéia de um blog, na medida em que, em pequeno, dois pequenos irmãos gêmeos apaixonados pelas imagens e palavras – o que gerava estranhamento por parte dos pais, dada a paixão infantil - diziam um dia escrever um livro. Sabe-se lá as razões que os levavam a pensar tão alto sendo tão baixos, mas o fato é que algumas vezes essas tentativas ocorreram, mas as histórias se perdiam e o tempo (vilão!), cada vez mais vilão se tornava e impedia o encontro da mocinha com seu príncipe encantado.
Muitos, em diversos tempos verbais, proclamam um império de livros e um mundo em menos preto e branco. Um livro de fato ajuda a colorir a vida humana independente das velas acesas pelo leitor. Para além disso, um conjunto de páginas escritas aguça a sensibilidade daquele que o lê e o permite um maior e melhor olhar crítico da sociedade e dos que a manejam. Será que é isso que os piratas dessa nau faminta enxerga como a ilha do tesouro perdido? Ou querem eles rumar tortuosamente a fim de ela sucumbir e o ouro ser de poucos? (In)Felizmente, a gente que lê bem sabe.


IThauan dos SantosI

sábado, 22 de novembro de 2008

Um espelho, uma imagem.



Sinto uma dor. Ela me enfraquece. Ela quer me fazer enxergar...

Nunca deu atenção aos contos populares. Lembrou-se de sua querida avó contando-lhe Aquele, naquela chuvosa tarde de outono, onde o vento soprava assombrosas notas musicais – mais parecia uma sinfonia gótica.

Ela se foi. Porém não seus mitos e seus contos. Nem suas profundas lembranças. Agora, mais do que nunca, ela se fazia lembrar. A dor era tamanha.

- [...] é o dente do juízo; o dente da maturidade.
Era sua memória: daquela que em tempos de outrora, sentada na cadeira, já cansada das pernas de tanto se mover para frente e para trás, perdia-se em meio às histórias. Histórias que eram muito bem passadas para seus netos, para seus sobrinhos... para a eternidade; histórias que viriam se mostrar reais, como esta a estava sendo.

A dor daquele dente a fazia refletir sobre sua própria evolução, haja vista o tempo não a deixar pensar em nada, tampouco em si mesma. Tomou de um espelho e não sabia quem estava projetado naquela imagem. Não se reconheceu.

Era uma mulher. Dotada de uma vida adulta; quando se é criança, nunca se pensa nesses tempos; ou melhor, sempre se pensa. Queremos ser adultos, mas adultos juvenis... Não fugiu à regra. Não fujo à regra.

Essa transição é complexa, difícil: é o próprio reflexo da evolução humana.



ILuan dos SantosI

domingo, 12 de outubro de 2008

Apenas uma metáfora


Sim, foi exatamente assim: atrasado eu e ela estávamos quando entramos na sala de aula. E o professor, logo aquele que diziam ser o mais chato com relação a atrasos e "conversinhas".
No tempo anterior, estávamos sentados no fundo da sala, já que, quando chegamos, a turma estava cheia. Esse é um ponto relevante. Ao sentarmos, já preocupados com as anotações que dançavam no quadro, agitávamos na tentativa de pegar folha e lápis para registrarmos as palavras. Neste mesmo instante, vir-me-ei a ela para perguntar algo que se encontrava escrito. Coitada. Foi isso, foi real e exatamente isso que me levou a refletir. Enquanto ela respondia e eu questionava - vale ressaltar que tudo isso numa fração de segundo- começou ele. Reclamava e nos pedia que conversasse fora da sala de aula. Confusos nós ficamos, já que à mesma proporção que nós não entendíamos nada, ele aumentava o tom e o grau de nervosismo.
Deve-se, portanto, lembrar que nós estávamos isolados no final da turma, uma vez que nosso material lá estava devido à última aula. No entanto, aquele professor de início de período, que não nos conhecia, deve ter pensado: devem ser uns "fanfarrões". Ou seja, para ele, nós devíamos ser aqueles alunos típicos do fundo da sala, aqueles que mal ligavam para o professor e para a matéria. Assim que percebemos que a reclamação havia parado a aula e concentrado toda atenção sobre nós, desculpamo-nos e mantivemo-nos, como mudos, naquele recinto.
Pensei, então... E como deve ser a sensação dos que sofrem grandes injustiças? De que valeria nós nos desculparmos pelo atraso, que fora ocasionado por motivos que não estavam sob nosso controle? De que valeria um inocente protestar e lutar pelos seus direitos dentro de um país onde o Congresso é tão corrupto quanto à polícia, que deveria nos proteger? De que nos valeria justificar a "breve conversa", devido ao fato de eu não ter entendido a letra do mestre no quadro? De que valeria uma criança, um adolescente, um desempregado, um favelado, um morador de rua gritar, espernear, se suas palavras correm um imenso risco de jamais serem escutadas? De que valeria nós falarmos que não somos os "fanfarrões" que parecíamos ser em nossa primeira aula?
O que fazer? Refletir apenas a respeito dessa realidade e continuar calado frente à situação? Ou tentar, de fato, argumentar e questionar? No primeiro momento, responderia que de nada. Mas, refletindo bem, nenhum esforço é em vão. Ainda mais, quando tal esforço emerge de uma injustiça, seja algo mais leve como o ocorrido conosco, ou algo mais pesado e sujo como ocorre diariamente no nosso Brasil.
Nossa sorte, no entanto, foi que criamos uma imagem ruim em nossa primeira aula, o que poderia ser revertido depois, facilmente. Pouca ou nenhuma sorte, porém, é daqueles que, entre outros terríveis exemplos, pegam anos infindos de cadeia por um crime não cometido. Daqueles que não têm voz. Daqueles que, ao passar na rua, a maioria de nós prefere ignorar. Ou, ainda, daqueles totalmente abandonados pelo sistema e pela família. Assim é o nosso país e, certamente, muitos outros por aí. Uma pequena injustiça, quando nós temos outras coisas com que nos preocuparmos, por mais que doa, passa. Porém, para aqueles que convivem com essa peça inerente ao nosso sistema, o dia-a-dia é muito mais complicado, e o esquecer, improvável. Que as palavras sejam medidas, que as situações sejam, de fato, analisadas. Que menos gente adoeça devido à injustiça. Que nós passemos a enxergar. Que eles sobrevivam.


IThauan dos SantosI

terça-feira, 8 de julho de 2008

Pincel do destino

Respirei. Mas me falta ar.

Por um instante, fico trêmulo e ofego. No entanto, resisto e sigo. Sigo sem saber para onde; sigo sem saber para quê; simplesmente, sigo.

Penso se sigo pelo caminho mais fácil, mais seguro; seria eu medíocre? Outrora, quero me arriscar e seguir pelo nebuloso, pelo difícil; quero perder-me em um labirinto. Conseguiria eu me achar?

A incerteza nos abala, mas sem ela parecemos estagnados em uma mesmice de vida solitária, desamparada e subjetiva. Queria eu dinamismo e desafios, mas quando os tenho, recuo. Em certos momentos, inclusive, sinto a necessidade de ouvir uma opinião alheia, ainda que eu saiba que de nada adianta... na verdade, sinto medo.

Esse medo me agoniza e me atormenta; persegue-me nesta empreitada, mas somente eu posso desenhar meu rumo, pintar meu caminho e escrever minha história. Enquanto isso, sigo seguindo... não sei a razão, nem onde chegarei, mas sigo na esperança de encontrar... E de me encontrar.



ILuan dos SantosI

quarta-feira, 14 de maio de 2008

My way


O sorriso do rosto já não mais corresponde à realidade. O estar ani- mado e comunicativo não seria, talvez, uma arma que mascara a solidão e a timidez? E os dias viram segundos e o mês de maio se passa. O que faz com que as pessoas fiquem cegas e não achem certas pessoas e oportunidades? Pior, o que faz com que as que as acham não as aproveite? Medo. Medo de ela estar próxima (será?) ou que seja dessas que está cega para mim. Eu, eu ainda espero.
De verões quentes a frios invernos. Frios. E nesse jogo de antíteses, são quase duas décadas completas. A experiência do sentimento de posse, que leva ao ciúme e ao simples desejo e ao gozo se foi. Quer dizer, se quer deu o ar de sua graça. No entanto, conselhos sempre vêm, mas, infelizmente, a sensação é de que nada servem. O eu interior acha que não chegou a hora, e prefere esperar, dando foco a outras tarefas. Pena carregarmos esse vilão conosco. É ele que nos faz relaxar e não ver que o doce da juventude amargou, ou, quem sabe, azedou. A gente, então, deixa de ser agente, passa à paciente. Minha paciência, extrema e exponencialmente age, corre contra a maré, ou seja, foge. Enquanto isso, eu de braços abertos e estendidos espero. Meus braços cansados estão. Caem aos poucos. Junto a eles, minhas lágrimas.


IThauan dos SantosI

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Sensações

Sinto-me exausto.
Exausto da responsabilidade, do compromisso, da obrigação...

da vida.

Sinto-me fraco.
Fraco de saúde, de amor...
da mente.

Sinto-me perdido.
Perdido no mundo...
em mim.

Sinto-me sensitivo.
Sinto.


ILuan dos SantosI

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Silenciosa despedida


O embarque de seu vôo já havia sido anunciado por aquela voz fria e robótica. Um sentimento estranho se apossou de ambos: pai e filho. O que em todos aqueles anos ficou se escondendo por trás das nuvens, parecia defrontá-los na velocidade do vento. E o impacto só seria sentido quando o último segundo chegasse.
Era consensual para eles que aqueles foram os minutos mais longos até então vividos. A relatividade do tempo se mostrou um verdadeiro fato empírico. Tal concordância nunca foi expressa por palavras, no entanto a linguagem do olhar demonstrou as aflições vividas; foi suficiente.
Sabiam que palavras não conseguiriam expressar tamanho arrependimento, oriundo de uma relação dotada de sentimentos vãos. Portanto, não mais fizeram que calar-se.
No momento em que era necessário partir, simplesmente conseguiu abraçá-lo. Era de um abraço verdadeiro e profundo. Foi mais expressivo que horas de conversas. Quando lhe deu as costas, sentiu que sua mão estava segurando à dele. Fixa e intensamente, relutava em largá-la. Mas a largou e o deixou.

ILuan dos SantosI

terça-feira, 15 de janeiro de 2008


Eterna companheira

Assola-me o medo da solidão
Nos olhos parados
De um jovem cidadão
Sentado ao sol frio.
Em meio ao silêncio da multidão

Na memória, vive o bom passado
Duma vida com história
Duma família feliz.
O ontem é o longínquo
Da casa cheia de cor
Do tempo sem abandonos
Onde havia calor.

O hoje não existe
Neste frio de viver
Sem amor.
Depositado numa vida
Tão pura e sem cor.

Essa vida, não sei se a quero:
O ar entra e sai dos meus pulmões
E o coração teima em bater
Em tristes pulsações.
Nos meus olhos parados
Ecoa o grito forte
De quem chama pela morte

Assola-me o medo da solidão
Nos olhos parados
De um jovem cidadão
Que já vive sem ilusão
De viver...
ILuan dos SantosI

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Curta: e a festa tá chegando ...

Setor elétrico em destaque - Brasil teme um novo apagão. Autoridades e especialistas vêm a público pronunciar medidas a serem tomadas, temores. Uns crêem que a possiblidade de racionamento estantâneo é de suma importância, mas estão otimistas em relação às chuvas. Outros, por outro lado, vêem a situação com olhos mais pessimistas.
Enquanto os Estados Unidos vive um crise e a tensão da nova personalidade a ser eleita presidente da grande nação, aqui, no Brasil, só há uma única certeza : o carnaval está chegando. Sim, é fato também, que o preço dos alimentos vem caindo também.

Máscaras cobrirão rostos - literalmente, não como no Senado -, muito confete e serpentina. Enquanto uns passam fome e roubam, outros pulam e beijam na boca. Bahia, O lugar. Muito turista, gringo, enfim, muito dinheiro.

A festa dos alimentos tá acabando; a dos alimentados, prestes a começar.
IThauan dos SantosI

domingo, 6 de janeiro de 2008

O olho que tudo vê

Tais qual aos da mãe. Os fios anelados, por vezes, omitiam-nos, ofuscando a luminosidade intensa que daquele ser irradiava. A maria saía. O joão ficava, pois se acomodara ao perder seu labor. Acomodar poderia não ser o melhor dos vocábulos. Fora exemplar. Dessa forma, explicavam-se o quão perturbado e indignado ficara após a demissão. Explicavam-se também certas mudanças de comportamento, umas, claras e públicas, outras, escuras e particulares.
A busca de outro qualquer ofício que o fizesse não mais precisar ouvir certas verdades de sua mulher (ainda a era?!) era cada vez mais rarefeita. Os papéis, portanto, haviam se trocado. A mulher vestia o terninho e bancava as contas. O homem, o avental e da casa cuidava. Mas a paisagem não era das melhores. O trabalho doméstico nunca era suficiente para ela que estava acostumada à mordomia e a tudo nos seus devidos conformes.
E ia. “Mamãe” ia para a filha. “Aquela” ia para o pai. Esta, com um olhar de esperança e tristeza. Aquela, com um beijinho no rosto.
O pai a arrumava. Já não era mais um bebê, era quase uma mocinha. A água corria corpo abaixo e as mãos, já trêmulas, dançavam. Os olhos, mesmos de maria, o faziam lembrar dos bons momentos daquele ardente namoro e apaixonado casamento. Temia o crime, mas a sede era demasiada.
O sofá os conforta. São vigiados...
Tudo de novo. Maria sai. E dias passam, correm. Para ela, tudo igual. Para a filha, um cotidiano de terror. Aqueles confiáveis olhos azuis pareciam mais escuros. Traziam medo. O único olho sem culpa, transparente, assistia a tudo. Não por querer. Jamais. O absurdo se tornou normal pra joão, e um dever de casa extra para ela. O pai, ele implorava que não contasse para ninguém. Ameaças. Confusa e acuada, calava.
...
E assim cresceu. Entendeu o desejo pelo sigilo de seu pai. Chorou. Porém, não de dor ou medo. Agora, de raiva, de ter compactuado com aquele joão. Poupou a mãe da verdade. Poupou o pai da vida.
Foi mais uma filha “bastarda” para a mãe, para a mídia, para todos – o porquê, ninguém nunca soube, senão aqueles cinco olhos. Foi mais uma vítima do destino e de si. A mãe, mais uma maria trabalhadeira ausente pela situação financeira. O pai, ah o pai, mais um pobre coitado assassinado pela filha - menos um mau caráter na sociedade.

O que os vigiava, o que era obrigado a consentir com aquilo, era surdo, era mudo, infelizmente, só não era cego. É o olho-mágico. Só não fez jus ao nome por não interferir ou reverter aquela situação. Ainda veria muitas famílias crescer, muitas diminuir. Muitos risos, muitos choros. Muitas marias, muitos joãos. Quando ele integra uma nova família, é mais um membro dela. É parceiro de todos, concorde ele ou não.

IThauan dos SantosI

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Querido amigo,

Sei que não é necessário. Palavras não são capazes de expressar com fidelidade e plenitude verdadeiros sentimentos. Entretanto, ainda que o diálogo já tenha ocorrido, a necessidade da caneta transcende e se faz fundamental.
Nada mais éramos que distantes colegas quando os tempos eram remotos, quando os gostos... ah os gostos, que se mostravam os mesmos e os conhecidos, alguns também. Mas ainda não era o momento de nos aproximarmos, de fato. A sabedoria do alheio restringiu-se ao nome, sequer sobrenome.
E o que mais é responsável pelo futuro que não o sopro do vento, o enrugar da pele, o adquirir experiência: o tempo. Ele nunca engana. Pode até mascarar e ocultar, instantaneamente. Mas ele próprio se entrega. É seu fardo eterno.
Foi necessária a intervenção materna. Daquela amizade nasceu a nossa. A nossa amizade. A princípio, muitas semelhanças, mas Ele enganou as diferenças que viriam... Naquele segundo, que mais pareciam horas, dias, anos, bloqueamo-nos para as divergências.
Objetivos conquistados. Risos. Comemorações. E a amizade crescia e parecia nunca parar de ascender. Porém, a mudança de ambiente, novas pessoas, os ciclos se alteram e, com eles, nada mais natural, que os comportamentos para com os demais. O outrem é o antigo, o rústico, o ofuscado. O além é o novo, o belo, o deslumbre. As essências se mantêm, sobretudo.
Mas elas vieram. O antagonismo finalmente [e infelizmente, ou não] se fez presente. Os conflitos apareceram, portanto. Aquela feliz e perfeita amizade, sobre uma corda bamba se mantinha e, nela, muitas tristezas se equilibravam.
O afastamento se mostrou instantâneo e gradual. E o meu desespero também. Acho que pela primeira vez conversamos sobre A Nossa Amizade, fato vastamente importante e enriquecedor para ambos, assim o creio. Certa vez, ouvi dizer que há males que vêm para o bem. Para mim, esse empirismo se tornou científico.

ILuan dos SantosI

Companheira


Ela cresceu comigo. Esteve comigo desde que, grandinho, segundo dizia minha mãe, comecei a assimilar e me padronizar naquilo que comumente chamamos sociedade. A justificativa mudava com o tempo; ela era cada vez mais cabível com minha capacidade mental, mas, infelizmente, cada vez mais próxima daquilo que sabemos, porém não desejamos. O tempo corria. Ela crescia. Esteve comigo na primeira festinha na escola. Esteve também no primeiro momento em que assinei os documentos da faculdade conquistada com muito esforço financeiro de minha mãe para custear o cursinho.
A comemoração deste fato veio com festa e álcool, o que me rendeu uma lição; o primeiro e único levante de mão dela – minha cara envergonhada virou. Não entendi.
A ausência se fez maior quando não mais tolerava as respostas. Fui à busca. Já dizia o velho ditado “quem procura, acha”. Procurei a verdade e a achei da forma mais crua e nua. Já não era mais aquele órfão que precisava ser bajulado para crescer bem em meio à perda. Ouvi a drástica história da boca daquele homem como se fosse a coisa mais normal de se mencionar e de ser ouvida. Aquele homem que sempre me faltou, que nunca foi na festinha do dia dos pais, que sempre estava viajando a trabalho, era mais um documento em meio aos óbitos.
Não suportei o segredo da mamãe. Tampouco a companheira - a ferida - ardeu e eu, eu cedi.

Mais tarde, o hospital. E lá, Ela aproximou-se. Nervosa, veio se desculpar. Em princípio, a repugnei. Entendi, claro, os devidos porquês que a levaram a essa medida. Desejei saber mais, mas fui precavido. Adjetivos podres fugiram daquele pseudo-sorriso conhecido.
E veio a novela, ainda que com resistência e cuidado. A ferida, a ausência, a mentira mutável para o bem daquele triste filho único, misturavam-se e confundiam-se em ódio, medo e graditão. Graditão à aquela mulher que fez o que devia ter feito para amenizar,ou melhor, adiar uma inevitável dor. Ele, ele era mais um daqueles que gastava o que tinha em bebia e o troco vinha sempre para Ela. A situação foi levada até que as dívidas, bem como as brigas o fizeram fechar seus olhos lá, naquele seu novo lar, que o levou a matar um outro e a si próprio. Fora vítima não de seu vício, mas de suas conseqüências – uma arma gemera. Morreu feliz. Junto ao vidro daqueles copos. Sobre o madeira da sua mesa de estar. No meio daquele povo humilde que, de tanto comentar, fez uma mãe fugir descalça, criança ao colo, sem dinheiro, sem destino, sem saber o que fazer.
À raiva, uma lágrima. Ao desespero, aconchego. Ao álcool, aquela, agora, entendida lição.

IThauan dos SantosI

CASULO HUMANO

Nunca teve tanta certeza de que mudanças se faziam indispensáveis. Por muitas vezes, ele prometeu, mas não cumpriu. Jurou, mas falhou. Dessa vez, seria diferente. Ao menos ele faria o possível para tal.
Pequenas, médias ou grandes. Simples ou complexas. Desejáveis ou, até mesmo, indesejáveis. Naturais, espontâneas ou forçadas. Mudanças.
Não conhecia todas as necessárias. Tampouco desconhecia todas. Já possuia um ponto de partida. Parando e refletindo, sabia que nenhuma delas seria tão fácil o quão poderia parecer, pois mudanças são sempre mudanças.
É sabido, entretanto, que todo ser humano é avesso àquelas, logo as teme. Essas o descontrolam, assim como o dissimulam. Elas o modificam. Ainda que a desejemos e a veneremos, sempre é tarde quando chegam, quando chegam...
Se chegarem, ou mesmo se ao menos uma chegar, sinta-se vencedor. Analise se, de fato, seu objetivo foi alcançado. Sempre ele é almejado, porém nem sempre conquistado, o que nos faz retornar a uma atitude ou comportamento já praticado.
No entanto, quando ficam apenas na memória, na esperança, a força de vontade não foi suficiente e, dessa forma, não nos movemos. Parados ficamos. Fixados estamos.
Assim, ele permanece crendo que um dia elas virão. Esta expectativa é capaz de mover vidas. A dele agradece por ela. Mas na confiança de que seu alvo será alcançado. Enquanto isso, novamente ele promete.

ILuan dos SantosI