terça-feira, 15 de janeiro de 2008


Eterna companheira

Assola-me o medo da solidão
Nos olhos parados
De um jovem cidadão
Sentado ao sol frio.
Em meio ao silêncio da multidão

Na memória, vive o bom passado
Duma vida com história
Duma família feliz.
O ontem é o longínquo
Da casa cheia de cor
Do tempo sem abandonos
Onde havia calor.

O hoje não existe
Neste frio de viver
Sem amor.
Depositado numa vida
Tão pura e sem cor.

Essa vida, não sei se a quero:
O ar entra e sai dos meus pulmões
E o coração teima em bater
Em tristes pulsações.
Nos meus olhos parados
Ecoa o grito forte
De quem chama pela morte

Assola-me o medo da solidão
Nos olhos parados
De um jovem cidadão
Que já vive sem ilusão
De viver...
ILuan dos SantosI

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Curta: e a festa tá chegando ...

Setor elétrico em destaque - Brasil teme um novo apagão. Autoridades e especialistas vêm a público pronunciar medidas a serem tomadas, temores. Uns crêem que a possiblidade de racionamento estantâneo é de suma importância, mas estão otimistas em relação às chuvas. Outros, por outro lado, vêem a situação com olhos mais pessimistas.
Enquanto os Estados Unidos vive um crise e a tensão da nova personalidade a ser eleita presidente da grande nação, aqui, no Brasil, só há uma única certeza : o carnaval está chegando. Sim, é fato também, que o preço dos alimentos vem caindo também.

Máscaras cobrirão rostos - literalmente, não como no Senado -, muito confete e serpentina. Enquanto uns passam fome e roubam, outros pulam e beijam na boca. Bahia, O lugar. Muito turista, gringo, enfim, muito dinheiro.

A festa dos alimentos tá acabando; a dos alimentados, prestes a começar.
IThauan dos SantosI

domingo, 6 de janeiro de 2008

O olho que tudo vê

Tais qual aos da mãe. Os fios anelados, por vezes, omitiam-nos, ofuscando a luminosidade intensa que daquele ser irradiava. A maria saía. O joão ficava, pois se acomodara ao perder seu labor. Acomodar poderia não ser o melhor dos vocábulos. Fora exemplar. Dessa forma, explicavam-se o quão perturbado e indignado ficara após a demissão. Explicavam-se também certas mudanças de comportamento, umas, claras e públicas, outras, escuras e particulares.
A busca de outro qualquer ofício que o fizesse não mais precisar ouvir certas verdades de sua mulher (ainda a era?!) era cada vez mais rarefeita. Os papéis, portanto, haviam se trocado. A mulher vestia o terninho e bancava as contas. O homem, o avental e da casa cuidava. Mas a paisagem não era das melhores. O trabalho doméstico nunca era suficiente para ela que estava acostumada à mordomia e a tudo nos seus devidos conformes.
E ia. “Mamãe” ia para a filha. “Aquela” ia para o pai. Esta, com um olhar de esperança e tristeza. Aquela, com um beijinho no rosto.
O pai a arrumava. Já não era mais um bebê, era quase uma mocinha. A água corria corpo abaixo e as mãos, já trêmulas, dançavam. Os olhos, mesmos de maria, o faziam lembrar dos bons momentos daquele ardente namoro e apaixonado casamento. Temia o crime, mas a sede era demasiada.
O sofá os conforta. São vigiados...
Tudo de novo. Maria sai. E dias passam, correm. Para ela, tudo igual. Para a filha, um cotidiano de terror. Aqueles confiáveis olhos azuis pareciam mais escuros. Traziam medo. O único olho sem culpa, transparente, assistia a tudo. Não por querer. Jamais. O absurdo se tornou normal pra joão, e um dever de casa extra para ela. O pai, ele implorava que não contasse para ninguém. Ameaças. Confusa e acuada, calava.
...
E assim cresceu. Entendeu o desejo pelo sigilo de seu pai. Chorou. Porém, não de dor ou medo. Agora, de raiva, de ter compactuado com aquele joão. Poupou a mãe da verdade. Poupou o pai da vida.
Foi mais uma filha “bastarda” para a mãe, para a mídia, para todos – o porquê, ninguém nunca soube, senão aqueles cinco olhos. Foi mais uma vítima do destino e de si. A mãe, mais uma maria trabalhadeira ausente pela situação financeira. O pai, ah o pai, mais um pobre coitado assassinado pela filha - menos um mau caráter na sociedade.

O que os vigiava, o que era obrigado a consentir com aquilo, era surdo, era mudo, infelizmente, só não era cego. É o olho-mágico. Só não fez jus ao nome por não interferir ou reverter aquela situação. Ainda veria muitas famílias crescer, muitas diminuir. Muitos risos, muitos choros. Muitas marias, muitos joãos. Quando ele integra uma nova família, é mais um membro dela. É parceiro de todos, concorde ele ou não.

IThauan dos SantosI

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Querido amigo,

Sei que não é necessário. Palavras não são capazes de expressar com fidelidade e plenitude verdadeiros sentimentos. Entretanto, ainda que o diálogo já tenha ocorrido, a necessidade da caneta transcende e se faz fundamental.
Nada mais éramos que distantes colegas quando os tempos eram remotos, quando os gostos... ah os gostos, que se mostravam os mesmos e os conhecidos, alguns também. Mas ainda não era o momento de nos aproximarmos, de fato. A sabedoria do alheio restringiu-se ao nome, sequer sobrenome.
E o que mais é responsável pelo futuro que não o sopro do vento, o enrugar da pele, o adquirir experiência: o tempo. Ele nunca engana. Pode até mascarar e ocultar, instantaneamente. Mas ele próprio se entrega. É seu fardo eterno.
Foi necessária a intervenção materna. Daquela amizade nasceu a nossa. A nossa amizade. A princípio, muitas semelhanças, mas Ele enganou as diferenças que viriam... Naquele segundo, que mais pareciam horas, dias, anos, bloqueamo-nos para as divergências.
Objetivos conquistados. Risos. Comemorações. E a amizade crescia e parecia nunca parar de ascender. Porém, a mudança de ambiente, novas pessoas, os ciclos se alteram e, com eles, nada mais natural, que os comportamentos para com os demais. O outrem é o antigo, o rústico, o ofuscado. O além é o novo, o belo, o deslumbre. As essências se mantêm, sobretudo.
Mas elas vieram. O antagonismo finalmente [e infelizmente, ou não] se fez presente. Os conflitos apareceram, portanto. Aquela feliz e perfeita amizade, sobre uma corda bamba se mantinha e, nela, muitas tristezas se equilibravam.
O afastamento se mostrou instantâneo e gradual. E o meu desespero também. Acho que pela primeira vez conversamos sobre A Nossa Amizade, fato vastamente importante e enriquecedor para ambos, assim o creio. Certa vez, ouvi dizer que há males que vêm para o bem. Para mim, esse empirismo se tornou científico.

ILuan dos SantosI

Companheira


Ela cresceu comigo. Esteve comigo desde que, grandinho, segundo dizia minha mãe, comecei a assimilar e me padronizar naquilo que comumente chamamos sociedade. A justificativa mudava com o tempo; ela era cada vez mais cabível com minha capacidade mental, mas, infelizmente, cada vez mais próxima daquilo que sabemos, porém não desejamos. O tempo corria. Ela crescia. Esteve comigo na primeira festinha na escola. Esteve também no primeiro momento em que assinei os documentos da faculdade conquistada com muito esforço financeiro de minha mãe para custear o cursinho.
A comemoração deste fato veio com festa e álcool, o que me rendeu uma lição; o primeiro e único levante de mão dela – minha cara envergonhada virou. Não entendi.
A ausência se fez maior quando não mais tolerava as respostas. Fui à busca. Já dizia o velho ditado “quem procura, acha”. Procurei a verdade e a achei da forma mais crua e nua. Já não era mais aquele órfão que precisava ser bajulado para crescer bem em meio à perda. Ouvi a drástica história da boca daquele homem como se fosse a coisa mais normal de se mencionar e de ser ouvida. Aquele homem que sempre me faltou, que nunca foi na festinha do dia dos pais, que sempre estava viajando a trabalho, era mais um documento em meio aos óbitos.
Não suportei o segredo da mamãe. Tampouco a companheira - a ferida - ardeu e eu, eu cedi.

Mais tarde, o hospital. E lá, Ela aproximou-se. Nervosa, veio se desculpar. Em princípio, a repugnei. Entendi, claro, os devidos porquês que a levaram a essa medida. Desejei saber mais, mas fui precavido. Adjetivos podres fugiram daquele pseudo-sorriso conhecido.
E veio a novela, ainda que com resistência e cuidado. A ferida, a ausência, a mentira mutável para o bem daquele triste filho único, misturavam-se e confundiam-se em ódio, medo e graditão. Graditão à aquela mulher que fez o que devia ter feito para amenizar,ou melhor, adiar uma inevitável dor. Ele, ele era mais um daqueles que gastava o que tinha em bebia e o troco vinha sempre para Ela. A situação foi levada até que as dívidas, bem como as brigas o fizeram fechar seus olhos lá, naquele seu novo lar, que o levou a matar um outro e a si próprio. Fora vítima não de seu vício, mas de suas conseqüências – uma arma gemera. Morreu feliz. Junto ao vidro daqueles copos. Sobre o madeira da sua mesa de estar. No meio daquele povo humilde que, de tanto comentar, fez uma mãe fugir descalça, criança ao colo, sem dinheiro, sem destino, sem saber o que fazer.
À raiva, uma lágrima. Ao desespero, aconchego. Ao álcool, aquela, agora, entendida lição.

IThauan dos SantosI

CASULO HUMANO

Nunca teve tanta certeza de que mudanças se faziam indispensáveis. Por muitas vezes, ele prometeu, mas não cumpriu. Jurou, mas falhou. Dessa vez, seria diferente. Ao menos ele faria o possível para tal.
Pequenas, médias ou grandes. Simples ou complexas. Desejáveis ou, até mesmo, indesejáveis. Naturais, espontâneas ou forçadas. Mudanças.
Não conhecia todas as necessárias. Tampouco desconhecia todas. Já possuia um ponto de partida. Parando e refletindo, sabia que nenhuma delas seria tão fácil o quão poderia parecer, pois mudanças são sempre mudanças.
É sabido, entretanto, que todo ser humano é avesso àquelas, logo as teme. Essas o descontrolam, assim como o dissimulam. Elas o modificam. Ainda que a desejemos e a veneremos, sempre é tarde quando chegam, quando chegam...
Se chegarem, ou mesmo se ao menos uma chegar, sinta-se vencedor. Analise se, de fato, seu objetivo foi alcançado. Sempre ele é almejado, porém nem sempre conquistado, o que nos faz retornar a uma atitude ou comportamento já praticado.
No entanto, quando ficam apenas na memória, na esperança, a força de vontade não foi suficiente e, dessa forma, não nos movemos. Parados ficamos. Fixados estamos.
Assim, ele permanece crendo que um dia elas virão. Esta expectativa é capaz de mover vidas. A dele agradece por ela. Mas na confiança de que seu alvo será alcançado. Enquanto isso, novamente ele promete.

ILuan dos SantosI