terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O belo canário


Os dias já não tinham mais nome...

Ele sabia de tudo. Sempre soube, na verdade. Sabia, inclusive, as razões e, mais ainda, sabia onde tudo ia terminar. E como iria.

Aquela brisa fazia ondular seus castanhos cabelos, que se perdiam em meio àquela sinfonia que manchava o céu de um púrpura doce, com um pequeno toque adocicado singular. Era a tradução do seu interior.

Toda aquela perplexidade o deixava atordoado. Sua cabeça, não registrava aquele turbilhão de acontecimentos, tampouco era capaz de decifrá-los. Não era compreensível. Ninguém seria capaz de fazê-lo.

Não sabia mais onde estava, pois, daquele ângulo, só se via, pelas manhãs, aquele belo canário na janela. Era seu único amigo. O melhor ouvinte. O único ouvinte. Sua passagem era fugaz, mas, sua relevância, essencial.

Não era possível tocá-lo, embora o sangue escorresse pelos seus pulsos em toda tentativa de se rever livre. Não se vivia pr’além daquela cadeira insensível e desconfortável. Vivia por ele.

Até que naquele dia ele não veio... Ele não o ouviu. Ele se tornara mais um. O último.

Ninguém mais poderia entendê-lo, afinal quem não o julgaria insano? Deixaram-no lá. Esqueceram-me aqui.


|Luan dos Santos|