domingo, 6 de janeiro de 2008

O olho que tudo vê

Tais qual aos da mãe. Os fios anelados, por vezes, omitiam-nos, ofuscando a luminosidade intensa que daquele ser irradiava. A maria saía. O joão ficava, pois se acomodara ao perder seu labor. Acomodar poderia não ser o melhor dos vocábulos. Fora exemplar. Dessa forma, explicavam-se o quão perturbado e indignado ficara após a demissão. Explicavam-se também certas mudanças de comportamento, umas, claras e públicas, outras, escuras e particulares.
A busca de outro qualquer ofício que o fizesse não mais precisar ouvir certas verdades de sua mulher (ainda a era?!) era cada vez mais rarefeita. Os papéis, portanto, haviam se trocado. A mulher vestia o terninho e bancava as contas. O homem, o avental e da casa cuidava. Mas a paisagem não era das melhores. O trabalho doméstico nunca era suficiente para ela que estava acostumada à mordomia e a tudo nos seus devidos conformes.
E ia. “Mamãe” ia para a filha. “Aquela” ia para o pai. Esta, com um olhar de esperança e tristeza. Aquela, com um beijinho no rosto.
O pai a arrumava. Já não era mais um bebê, era quase uma mocinha. A água corria corpo abaixo e as mãos, já trêmulas, dançavam. Os olhos, mesmos de maria, o faziam lembrar dos bons momentos daquele ardente namoro e apaixonado casamento. Temia o crime, mas a sede era demasiada.
O sofá os conforta. São vigiados...
Tudo de novo. Maria sai. E dias passam, correm. Para ela, tudo igual. Para a filha, um cotidiano de terror. Aqueles confiáveis olhos azuis pareciam mais escuros. Traziam medo. O único olho sem culpa, transparente, assistia a tudo. Não por querer. Jamais. O absurdo se tornou normal pra joão, e um dever de casa extra para ela. O pai, ele implorava que não contasse para ninguém. Ameaças. Confusa e acuada, calava.
...
E assim cresceu. Entendeu o desejo pelo sigilo de seu pai. Chorou. Porém, não de dor ou medo. Agora, de raiva, de ter compactuado com aquele joão. Poupou a mãe da verdade. Poupou o pai da vida.
Foi mais uma filha “bastarda” para a mãe, para a mídia, para todos – o porquê, ninguém nunca soube, senão aqueles cinco olhos. Foi mais uma vítima do destino e de si. A mãe, mais uma maria trabalhadeira ausente pela situação financeira. O pai, ah o pai, mais um pobre coitado assassinado pela filha - menos um mau caráter na sociedade.

O que os vigiava, o que era obrigado a consentir com aquilo, era surdo, era mudo, infelizmente, só não era cego. É o olho-mágico. Só não fez jus ao nome por não interferir ou reverter aquela situação. Ainda veria muitas famílias crescer, muitas diminuir. Muitos risos, muitos choros. Muitas marias, muitos joãos. Quando ele integra uma nova família, é mais um membro dela. É parceiro de todos, concorde ele ou não.

IThauan dos SantosI

4 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

essa tá digna de mandar pr jornal ou pra minha professora de literatura ou até pra minha tia q é porfessora....
se quiser me manda q eu mando pra ela!!!
ameiii...
mtoo intenso...!!!
bjaoo

Unknown disse...

Palmas novamente pra esse texto...Porra, vejo q vcs 2 só criam esse texto qdo nao tem nada pra fazer, só pde..vamos pro templo..lá vcs se inspiram no prox. texto, ou melhor...vamos para a festinha da fundiçao no dia 3 de fev, tenho certeza q lá vcs vao se inspirar em como a musica eletronica faz bem para nossos corpos. Devia desenvolver um texto desse, te garanto q ia ter vários comentários...O meu principalmente..hehehe..

ABÇS LEK

Unknown disse...

Thauaaan!
Mais um texto daqueles! Daqueles que vc lê e adora, daqueles que ontem vc leu, hj vc releu e amanha com certeza vai ter que ler de novo. Daqueles que te prende e te surpreende. Daqueles que dá orgulho de quem o escreveu.

Adorei.

Keep going.
Bjus miL