quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Por ele...

Ambos sabiam o que temiam. Ele o escuro. Ela os ambientes fechados.

Cresceram brincando juntos naquele belo jardim e já faria treze anos que eles eram melhores amigos. Sua mães estudaram Letras na mesma Universidade e, como quase irmãs, mantiveram um contato muito próximo e intenso, razão pela qual a amizade entre seus filhos se tornava cada vez maior. Elas achavam que eles eram mais do que apenas amigos. Eles tinham certeza.

O sonho daqueles pais era que eles se casassem, selando, assim, os laços de eterna amizade entre as duas famílias. Para além dos desejos de seus pais, eles nutriam uma grande paixão calada. Selada. Mas conheciam um ao outro mais do que a si próprio.

Certa noite, já cansados de tanto brincar, resolveram conversar sobre seus medos. Ela estava certa de que teria a oportunidade para fazê-lo perder o medo do escuro, afinal ela não conseguia dormir com nenhuma luz acesa. Ele de fazê-la não ficar sem ar em ambientes fechados, visto que ele só se sentia seguro dormindo com a porta do quarto fechada.

Apostaram que ficariam trancados no quarto com a luz desligada naquela noite, de modo que ambos conseguissem superar seus medos. Seria um grande desafio, mas eles sempre se apoiavam e, dessa vez, não seria diferente. Ela entrou no quarto, ligou o abajur e se deitou no grande e confortável colchão onde dormiriam. Ele, ainda no quarto claro, entrou e deitou-se no mesmo colchão ao seu lado. Em seguida, e concomitantemente, ela desligou o abajur e ele chutou a porta. Estavam trancados e no escuro.

Conforme combinado, mantiveram-se suportando aquele desconforto até que pegaram no sono, não obstante, de mãos dadas. Ou melhor, ele…

Fez-se dia e os raios de luz já invadiam o quarto. Era de se estranhar que ela ainda não estivesse acordada, afinal não era ela quem não conseguia dormir com claridade? Ele, agora se sentindo muito mais corajoso e capaz de enfrentar tudo e todos, já ansiava por mais um dia de brincadeiras com a sua fiel companheira, quando, finalmente, olhou para ela. Soube que nunca mais a teria pelos jardins. Nem em sua vida. E não fazia ideia de como enfrentaria esse fato.

O fez por ele.

ILuan dos SantosI

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